Greenpeace mostra deslocamento do garimpo ilegal e falhas no comércio global
21 de abril de 2025 às 13:15h
Enquanto a floresta é destruída e os rios são contaminados por mercúrio, toneladas de ouro ilegal seguem para o mercado internacional sem fiscalização eficaz e devida diligência

A Amazônia sofre enquanto garimpeiros ilegais destroem Terras Indígenas, contaminam rios com mercúrio e violentam os direitos dos povos que nela habitam. No centro desse ecossistema de destruição está a cobiça pelo ouro, um metal precioso que atravessa as fronteiras brasileiras e entra na economia global sem uma regulação eficaz e devida diligência realizada pelos diversos países envolvidos nas operações.
O novo relatório “Ouro Tóxico – Como a exploração ilegal de ouro na Amazônia alimenta a destruição ambiental, as violações dos direitos indígenas e um comércio global obscuro”, lançado pelo Greenpeace Brasil em parceria com o Greenpeace Alemanha, revela os impactos do garimpo ilegal e expõe os responsáveis por alimentar essa cadeia de destruição.
Em 2023 e 2024 o governo Lula, por meio de operações de desintrusão, segurança e monitoramento, buscou frear essa atividade criminosa. No entanto, os dados de monitoramento do Greenpeace Brasil mostram que, embora os números da atividade garimpeira tenham sido reduzidos em determinadas áreas, em outras ele aumentou substancialmente.
Na Terra Indígena Yanomami, por exemplo, houve uma redução de 7% da atividade nos últimos dois anos; na Munduruku, uma queda de 57%, e na Kayapó, de 31%. Mas, ao mesmo tempo, o garimpo explodiu na Terra Indígena Sararé, com um aumento de 93% no mesmo período. O total de floresta destruída nesses quatro territórios entre 2023 e 2024 chegou a 4.219 hectares – uma área superior ao Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro, e equivalente a quase 6 mil campos de futebol.

“O que estamos vendo é que quando o garimpo se torna inviável em um local, ele simplesmente se desloca para outro. Esse ouro que sai da Amazônia está manchado pelo sofrimento dos povos indígenas e pela destruição da floresta. Não podemos permitir que o mercado continue tratando esse crime ambiental como um negócio legítimo”, alerta Jorge Eduardo Dantas, porta-voz da Frente de Povos Indígenas do Greenpeace Brasil.
O garimpo ilegal contribui para o desmatamento na Amazônia – ele destrói não apenas a vegetação, mas também polui os rios com mercúrio, uma substância tóxica utilizada na extração do ouro, que contamina os peixes e adoece as populações ribeirinhas, indígenas e urbanas.
Comércio internacional e a cobiça pelo ouro
O relatório “Ouro Tóxico” também revela discrepâncias nos dados relacionados ao comércio internacional do metal. Em 2022, a Suíça importou 67% a mais de ouro do que o Brasil declarou ter exportado. Em 2023, a diferença foi de 62%, totalizando quase 19 toneladas de ouro com origem duvidosa, nesses dois anos. Essas irregularidades indicam que uma grande parte do ouro ilegal extraído na Amazônia está sendo lavada e legitimada no mercado global, sem transparência e responsabilidade.
Os três principais destinos de exportação do ouro brasileiro em 2024 foram Canadá, Suíça e Reino Unido, centros globais de refino e comércio do metal. A Suíça, responsável por refinar mais da metade do ouro importado pela União Europeia, recebeu 4,5 toneladas da Amazônia brasileira (23% do total exportado). Apesar de sua posição de destaque, o país ignora a origem suspeita do ouro.Além disso, bancos centrais e investidores, que compram ouro como ativo financeiro, acabam financiando indiretamente a destruição da maior floresta tropical do planeta.
Nos cofres internacionais
Os setores econômicos que mais usam o ouro são os de joalheria e relojoaria, que respondem por metade da procura mundial pelo minério. Os bancos centrais mundiais foram responsáveis pelo consumo de 1.045 toneladas em 2024, sendo que os Estados Unidos, a Alemanha, o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Itália e a França detém as maiores reservas de ouro em seus cofres.
Historicamente, os bancos centrais têm acumulado ouro para garantir o valor do dinheiro em circulação. Em tempos de instabilidade causada por conflitos entre países e eventos climáticos extremos, os bancos centrais utilizam o ouro para armazenar valor a longo prazo, como proteção natural contra a inflação e para diversificar suas carteiras de investimento. Hoje, mais de 70 países se utilizam dessa prática e têm planos de intensificar este uso, considerando que nos últimos anos o preço do ouro só aumenta no mercado internacional.
Os bancos centrais detêm atualmente em seus cofres mais de 35 mil toneladas de ouro, o equivalente a um quinto de todo o ouro já extraído pela humanidade.
Exigências para um futuro possível
O Greenpeace pede que as autoridades brasileiras e internacionais adotem medidas urgentes para interromper esse ciclo de destruição. Entre as ações propostas no Relatório, está a criação de um programa estratégico e integrado para combater o garimpo ilegal em Terras Indígenas, garantindo uma abordagem eficiente e coordenada. Além disso, a presença permanente do Estado nas áreas afetadas pelo garimpo é fundamental para impedir novas invasões e proteger as comunidades locais.
Outra medida importante é a proibição do uso de mercúrio na extração de ouro. O Greenpeace também defende o suporte às pessoas já expostas a esse metal pesado, garantindo tratamento adequado e ações para mitigar os danos à saúde pública. Além disso, é necessário uma auditoria minuciosa em todas as Permissões de Lavra Garimpeira (PLG) ativas, identificando irregularidades e revogando autorizações que contribuem para a expansão do garimpo. O ouro confiscado das atividades ilegais deve ser reutilizado para financiar a recuperação dessas áreas degradadas.
Respeitem a Amazônia!
No contexto da COP 30, que acontecerá em novembro em Belém (PA), com a participação de diversos países, faz-se necessário que as lideranças globais assumam uma posição clara contra o desmatamento e a violência na Amazônia. Para isso, elas devem cumprir suas promessas de zerar o desmatamento e reforçar mecanismos que impeçam a destruição da floresta. Também é fundamental regular e cortar o financiamento de empresas envolvidas nesse processo, impedindo que o ouro ilegal continue a alimentar cadeias produtivas internacionais. Além disso, soluções sustentáveis lideradas por povos indígenas e comunidades locais precisam ser apoiadas e fortalecidas, garantindo a proteção da Amazônia e seus habitantes.
A Amazônia não pode esperar! O garimpo ilegal continua devastando a floresta, envenenando rios e ameaçando a vida dos povos indígenas. Juntos, podemos pressionar governos para acabar com essa destruição. Assine agora a petição Amazônia Livre de Garimpo e exija ações concretas para a proteção deste bioma.
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